Vol. 1. N°24 (II Semestre 2016) – Foro Científico
Facultad de Ciencias Sociales, Universidad de Playa Ancha
Valparaíso,
Chile | e-ISSN 0718-4018 http://www.revistafaro.cl
Apreciação sobre a indexação de cordel a partir do contexto de mapa conceitual
Evaluation about the cordel indexing from the concept map context
Manuela Eugênio Maia
Universidade Estadual da Paraíba, Brasil
manuelamaia@gmail.com
Bernardina Maria Juvenal Freire de Oliveira [1]
Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
bernardinafreire@gmail.com
Dulce Amélia de Brito Neves
[2]
Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
damelia1@gmail.com
Recibido: 31 de agosto de 2016
Aceptado: 16 de diciembre de 2016
g Resumo •O cordel é um produto cultural europeu do século XVI que foi migrado para o Brasil no século XIX. Reelaborado a partir da mentalidade e das características nordestinas, imprime suas peculiaridades nas temáticas propostas e em seu formato poético. Ganhando cada vez mais visibilidade, esse tipo de literatura, tratada outrora como sendo de "segunda mão'', conquista seu espaço e o seu poder identitário ao longo dos anos, indicando a usa notória importância e resistência. Assim, o século XXI é marcado pelo reconhecimento desse documento, percebido em seus novos espaços de venda (livrarias e shoppings), seu uso em livros didáticos e vem servindo de objeto de estudo em dissertações e teses no circuito acadêmico. Deleitando-se nos estudos sobre os folhetos desde 2006 no maior acervo das Américas, a saber, a Biblioteca de Obras Raras átila Almeida (BORAA) pertencente à Universidade Estadual de Paraíba (UEPB), estreita-se o interesse nos estudos sob a perspectiva da Ciência da Informação (CI) acerca dos cordéis. Nesse estudo, objetiva-se compreender a lógica que se revela na escolha dos termos realizada pelas indexadoras na análise do cordel a partir da concepção do mapa conceitual. Este foi usado enquanto estratégia metodológica, buscando traçar relações nas sugestões de descrição temática em 6 (seis) cordéis a partir da perspectiva de duas indexadoras que trabalharam com esses documentos em pesquisas anteriores realizadas entre 2009 e 2013. Constatou-se que os termos usados pelas pesquisadas foram quase idênticos. Marcadamente, uma indexadora fez a opção por descritores tanto exaustivos quanto revocatórios; a outra optou por termos amplos. Conclui-se que a CI precisa inovar nos processos de análise realizados nessa pesquisa quando aliou o uso de mapas conceituais à indexação de folhetos.
g
Palabras
clave • Indexação - Cordel - Mapa conceitual.
g Abstract •Cordel is a European cultural product from the sixteenth century that migrated to Brazil in the nineteenth century. It was redesigned from the mentality and the Northeastern characteristics, thus it conveys its peculiarities in the thematic proposals and in its poetical format. This type of literature has been acquiring more and more visibility. In the past, it was treated as "second-hand'', but now it has been conquering its space and identity power over the years, indicating its noteworthy importance and resistance. Therefore, the twenty-first century is marked by the recognition of this document, which is present in its new selling environments (bookstores and malls), its use in textbooks and it has been used as object of study in dissertations and theses in the academic scenario. As the authors have been studying cordel since 2006 in the largest archive of the Americas, namely, Biblioteca de Obras Raras átila Almeida (BORAA -átila Almeida Library of Rare Works), which belongs to the Universidade Estadual de Paraíba (UEPB -State University of Paraíba), the interest in studies under the perspective of Information Science (IS) about cordel is narrowed. This study aims to understand the logic that is revealed while the indexers were choosing the terms in the cordel analysis from the conception of the concept map. This was used as a methodological strategy in order to outline the relations in the suggestion of theme description in 6 (six) cordéis from the perspective of two indexers who worked with such documents in previous pieces of research between 2009 and 2013. It was realized that the terms used by the indexers were almost similar. One indexer, specifically, made the option of both exhaustive and revocatory descriptors; the other one opted for broad terms. It can be concluded that IS needs to innovate concerning the analysis processes carried out in this study when allied the use of concept map with the cordel indexing.
g
Key Words • Indexing - Cordel - Concept map.
1. Introdução
O homem é marcado pela capacidade de construir objetos peculiares, de desenvolver símbolos e de estabelecer padrões sociais para o convívio em coletividade. Esse conjunto demarca a esfera da cultura, refletida nos costumes, regras, convenções, artefatos [3] , hábitos alimentares, música, literatura, etc. Essas práticas e objetos, que se mostram no dia a dia social, acumulam duas naturezas: tangível e intangível. Elas coexistem no tempo e espaço e, por isso, são reconhecidas pelos humanos em suas interações. As representações atribuídas aos objetos e às práticas pelos humanos quando produzem sentido, incluem-nos em grupos sociais dos mais diversos: o escolar, o religioso, o acadêmico, etc (Merencio, 2013).
Com essa crescente complexidade dos circuitos sociais, aumenta a necessidade dos grupos em participar e em construir elementos singulares que os personalizam. Esse fenômeno demarca a identidade de um coletivo, contrariando a lógica da massificação, por vezes, tentada por um mercado de consumo. A singularidade identitária mostra-se concretizada em objetos e em práticas cotidianas e, quando reconhecidos, agregam valor simbólico (Castells, 1999).
Em meio a esse turbilhão de bens tangíveis e intangíveis que "afloram" todos os dias, surge uma acirrada disputa de âmbito mercadológico e acadêmico em selecionar, conservar, guardar, acumular, registrar, tratar, disseminar e, porque não, a pretensa tentativa de "imortalizar" a produção humana, seja de caráter material quanto imaterial. Embora concordemos que não há essa cisão entre cultura material/tangível e imaterial/intangível, ambas estão imbricadas e se envolvem. Essa distinção que se faz na literatura justifica-se tão somente para fins meramente didáticos (Buendia y Silveira, 2011). Dessa constatação, a saber, da disputa acadêmica acerca da produção cultural humana, perguntamo-nos: o que precisamos conservar? é sempre uma escolha que exclui "um outro grupo"quot; do conjunto de bens tidos como representativos socialmente (Salaini y Graeff, 2011).
Resistindo ao tempo, o cordel, folheto de escrita e formato peculiar, persiste até a contemporaneidade em terras brasileiras. Produto de um período de democratização do acesso à leitura numa Europa medieval, esse documento chegou ao Brasil no século XVIII trazido pelos portugueses fugidos da dominação napoleônica (Curran, 2009). Ganhou vida e enraizou-se no Nordeste no fim do século XIX e início do século XX, tendo como patriarca, o paraibano Leandro Gomes de Barros (Haurélio, 2010). Essa prática literocultural e informacional fora marginalizada durante décadas, contudo, resistiu ao tempo e às mudanças de hábitos sociais. No âmbito acadêmico, sofreu rejeição enquanto objeto de estudo. Tido como texto de "segunda mão", não fazia parte de acervos de bibliotecas. A década de 90 do século XX representou um marco temporal referente à mudança de concepção quanto aos objetos que passam a compor esses espaços de saber. Embora Otlet e La Fontaine (Linares Columbié, 2010; Heuvel y Rayward, 2011), no início do século XX, já prenunciassem a ampla concepção de documento, foi somente em finais desse século que essa concepção foi aceita e aplicada nas práticas biblioteconômicas no Brasil.
Nessa direção, adquirir acervos documentais diferenciados dos tradicionais livros e periódicos traz uma série de questões e chama-nos atenção quanto às práticas de indexação. é relevante esclarecer que os documentos, num sentido lato, possuem distinções físicas que precisam ser respeitadas (Maia y Oliveira, 2008). Quanto à linguagem, no caso do cordel, o problema se torna ainda mais complexo, pois existem expressões e termos específicos que seguem peculiaridades regionais. Decorre daí um dos aspectos da relevância de estudos dessa natureza, particularmente no âmbito da Biblioteconomia e da CI, pouco trabalhado no que se refere às restrições terminológicas eleitas pelo indexador para representar o cordel tematicamente. Isso envolve questões regionais e locais, que extrapolam a seara das paredes frias e descontextualizadas das bibliotecas. O indexador precisa se envolver e estudar o espaço de produção do documento para identificar o seu universo terminológico e, assim, encontrar o sentido do texto e a escolha dos termos que melhor se aplicam ao documento.
Neste artigo, objetivamos compreender a lógica que se revela na escolha dos termos realizada pelos indexadores na análise do cordel a partir da concepção do mapa conceitual. Para tanto, utilizamo-nos da experiência como pesquisadoras do acervo de cordel da Biblioteca de Obras Raras átila Almeida (BORAA), pertencente à Universidade Estadual de Paraíba (UEPB), sediada na cidade de Campina Grande, praticando a indexação de 1.400 (um mil e quatrocentos) cordéis junto ao banco de dados que construímos.
2. Discussão Conceitual. "Bibliocordelando"
A explosão da informação ocorrida em meados do século XX exigiu reanálise dos paradigmas envolvendo a informação, o documento e os seus processos. Nesses, excessos e perdas ocorreram. Por isso, é preciso assegurar modelos de seleção, tratamento (organização, indexação [descrição temática], catalogação [descrição física], e classificação), armazenamento, disseminação, recuperação, acesso e uso que garantam a integridade e a legitimidade da informação e do documento em meio ao volume e aos novos suportes "nascidos" com a invenção da internet. A pluralidade textual produz uma profunda reflexão em torno dos suportes de informação, acarretando a inclusão de documentos nas bibliotecas e em outros espaços de saberes, excluídos até então. Embora, como mencionamos, já era sinalizada essa discussão na virada do século XIX por Paul Otlet (1868- 1944).
Precisamos nos posicionar em relação aos conceitos de informação e de documento que nos guiam nesse texto. A compreensão é clara: informação são
[...] estruturas simbolicamente significantes, codificadas de forma socialmente decodificável e registradas (para garantir permanência no tempo e portabilidade no espaço) e que apresentam a competência de gerar conhecimento para o indivíduo e para o seu meio. Estas estruturas significantes são estocadas em função de uso futuro, causando institucionalização da informação (Smit y Barreto, 2002, p. 21-22).
é informação toda relação humana mediada com símbolos, sejam de ordem natural ou artificial, que nos apropriamos por meio dos sentidos e nos reconhecemos nesse processo, produzindo impacto cognitivo, ou seja, uma mudança de percepção sobre os outros, a natureza ou as coisas.
Já o documento representa o suporte onde está inscrita a informação (Le Coadic, 1996). Nessa direção, todo e qualquer material que possa conter um significado simbólico e/ou ser objeto de inscrição de um registro humano é compreendido como documento. Um vestido ou uma cadeira podem vir a ser um documento se representarem simbolicamente algo para um grupo; do contrário, é só uma coisa. Assim, um vestido que foi usado pela cantora Madonna ganha o estatuto de peça de museu ou de leilão, cujo valor pode ser incalculável, destoando de outro similar em função do atributo que lhe conferiu um diferencial (Gonçalves, 1998).
Partindo dessas premissas, entendemos que o cordel caracteriza-se por um registro de informação atual, irô nico e que descreve fatos e pessoas reais ou frutos da imaginação. De escrita peculiar, o folheto é versificado, geralmente, em sextilha, setilha ou décima (Almeida y Alves Sobrinho, 1978), possuindo gênero textual conhecido por poesia ritmada. Sua produção, doméstica, incorpora a esse documento um caráter artesanal, começando pela capa, cuja impressão é um carimbo de madeira talhado com imagem que remete ao texto nominado tal técnica por xilogravura.
Embora herdeiro do romanceiro tradicional europeu, o cordel brasileiro floresceu e foi personalizado no final do século XIX, tendo como expoentes Leandro Gomes de Barros, Silvino Pirauá de Lima, Francisco das Chagas Batista e João Martins de Athayde (Haurélio, 2010). A vinda da família real portuguesa para o Brasil, no século XVIII, impulsionou o comércio, o urbanismo, a literatura, etc. (Curran, 2009). Nesta última, para além da criação das poesias, foram marcantes a produção tipográfica do cordel e a sua comercialização. Esses elementos foram cruciais para a popularização e enraizamento desse estilo literário, aceito e amplamente divulgado no nordeste brasileiro.
Com a internet, o cordel alcançou outro patamar: o espaço planetário. Sobreviveu ao radio e à televisao, principalmente, porque o folheto, para além do seu valor informativo, era reconhecido pelo(s) grupo/leitores por sua simplicidade e clareza da linguagem, a rima que auxilia em sua memorização, confeccionada de modo rústico (tipografado) e de preço acessível. Acresce a esse documento a prática da leitura nas feiras livres e nos lares. Nesses, alfabetizados lendo para analfabetos. Segundo Saraiva (2011):
[...] com a chegada da imprensa régia ao Brasil, em 1808, [os folhetos] começaram a ser impressos [localmente]. Primeiro, alguns mais ou menos iguais, em texto ou grafismo, aos de Portugal, depois, já na segunda metade do século XIX, começou no Nordeste a produção sistemática de cordel, com textos adaptados ou originais. As razões que impuseram o cordel no Nordeste, e não noutros lugares brasileiros, são de vária ordem - mas passam pela existência de poetas populares de grande talento em terras pernambucanas e paraibanas, e pela falta, nessas terras, de outros modos de distração e de comunicação, ou tão só pelo gosto com que massas mesmo semianalfabetas ou analfabetas recebiam as estórias em verso, facilmente memorizáveis no todo ou em parte. (s/p)
Por isso também, a leitura do cordel é uma prática social, extrapolando a simples ideia de registro para o seu poder de aglutinar e unir pessoas distintas. Então, seu destaque social e relevência cultural que justificam sua peculiaridade e esforço em preservar esse documento estão em: (a) sua simplicidade física, (b) baixo custo, (c) termos próprios usuais da cultura dos leitores/ouvintes e (d) linguagem musical proporcionada pelas rimas.
No início do século XXI, após décadas de apartamento, o cordel invade as escolas por meio dos livros didáticos e, ainda que de modo exótico, é aceito por outras classes sociais. Incluiu-se no meio acadêmico, passando a configurar-se como objeto de estudo para várias áreas do saber como: a linguística, história, literatura, pedagogia, biblioteconomia, ciência da informação, etc. (Maia et al, 2010). Atentamos que esse processo não ocorre de modo linear, havendo nos anos 70 a mobilização de estudos sobre os folhetos com a professora Francisca Neuma Fechine Borges (193-? - 2006) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB); e na cidade de Campina Grande, o colecionador e estudioso de cordel, o professor átila Augusto Freitas de Almeida (1923 - 1991).
De variedade temática, o cordel se fortalece a cada dia como documento de registro do ideário nordestino, que conta suas angústias, medos, histórias seculares, crítica social, sacarmo e preconceitos. Sinalizando os novos tempos, acadêmicos também passam a produzir cordel, a exemplo de Medeiros Braga e Jorge Dellane da Silva Brito. Ainda assim, esse não perde a sua essência que é ser poesia popular.
O folheto é um livro pequeno impresso normalmente em papel-jornal, com número de páginas múltiplo de quatro, de forma a facilitar tanto a impressão quanto a montagem do exemplar. A capa destaca-se das demais folhas, sendo confeccionada geralmente em papel com uma textura mais espessa, na maioria das vezes colorida ou com ilustrações.
A função social e cultural exercida pelos folhetos ao longo do tempo é inquestionável, uma vez que os mesmos apresentam fatos reais ou ligados à ficção para todas as classes sociais sob a perspectiva do homem nordestino. Neste contexto, eles exercem um papel de inclusão social, proporcionando às pessoas o conhecimento de fatos relacionados às ciências e/ou às histórias imaginárias que tanto divertem e (in) formam leitores.
Assim, diante de sua notória relevância cultural e social, o cordel passa a figurar nos espaço das bibliotecas, que guardam, perpetuam, conservam (fragilidade do suporte) e criam as condições para o acesso a todos que precisam usar esse documento.
Por esse motivo, o cordel é um documento informativo, justificando sua aquisição, tratamento e disponibilização para o amplo acesso e uso nas bibliotecas e nos centros de informação (Maia y Albuquerque, 2014; Albuquerque, 2011). Diante de sua relevância sociocultural, traçar estratégias diferenciadas de entender possibilidades que conduzem o indexador no processo de representação levou-nos a estabelecer os enlaces entre indexação e o mapa conceitual.
3. Mapa Conceitual: Aproximações Com A Indexação Documental
Os Mapas Conceituais (MC) são usados nesse texto com a perspectiva de analisar a indexação no processo da prática de representar a informação do ponto de vista cognitivo. Ou seja, o que conduz o indexador em suas escolhas representacionais quanto aos conteúdos de informação por ele trabalhados?
Assim, os MCs representam nessa direção: (a) o raciocínio humano subjetivo estruturado e (b) indicam as relações entre conceitos na forma de proposições (Neves, 2012; Bastos, 2000; 2002).
De abordagem cognitiva, o uso dos MCs evoca "indícios visuais, táteis, auditivos, que configuram o ambiente e permitem a localização do sujeito no espaço" (Bastos, 2002, p. 67), referindo-se a um processo representacional de como o organismo internamente, nível cerebral, percebe e concebe o seu mundo/ambiente. "Os mapas envolvem, portanto, conceitos e relações entre conceitos que são utilizados pelos sujeitos para compreender o seu ambiente e dar-lhe sentido" (Bastos, 2002, p. 67). Corroborando Lima (2003) que afirma que o processo cognitivo é envolvido por "atividades mentais como o pensamento, a imaginação, a recordação, a solução de problemas, a percepção, o julgamento, a aprendizagem da linguagem, entre outras" (p. 81), que ocorrem de forma diferente para cada indivíduo, a depender da habilidade de cada um.
Desse modo, é óbvio que a linguagem usada pelo sujeito na atribuição dos termos no MC é fundamental. Este, inserido num meio ambiente, envolto por sua cultura, trejeitos, associações, correlações, etc específicos, traduz a particularidade e coletividade dos sujeitos e de suas experiências vividas e sentidas (Bastos, 2000; 2002). Essa lógica nos parece estar em sintonia com Halbwachs (2006) quando afirma que a representação das coisas é evocada pela memória individual, mas que reflete e é concebida numa realidade coletiva. Traduzimos as coisas no mundo a partir da percepção do grupo em que estamos inseridos, embora não tenhamos essa consciência e a ilusão de que as representações são exclusivamente nossas. Somos limitados por nosso tempo e espaço ao representar as coisas e, por isso, guiados por Halbwachs (2006), percebemos que a construção do sentido que atribuímos ao mundo é social e relacional.
Assim, podemos afirmar que a linguagem que utilizamos na representação dos mapas cognitivos humanos é baseada numa realidade social circunscrita (Bastos, 2002). Por isso, tais representações são dinâmicas, reatualizadas, reajustadas e reavaliadas constantemente na medida em que os sujeitos vivenciam novas experiências. Vivemos num mundo em que a informação possui um fluxo contínuo e volumoso, exigindo dos humanos (re)construção cognitiva e consequente alteração de suas escolhas, percepção da realidade e da representação. Por se tratar de um processo abstrato e simbólico, Bastos (2000; 2002) esclarece que o MC envolve os processos de:
a) seleção: escolha dos termos usados para identificar a informação. Denotam a regularidade das percepções e da visão de mundo que envolve o indexador;
b) silenciamento: envolve a omissão ou desconsideração de termos que o indexador considera inoportunos por várias questões: preconceito, religião, etc;
c) organização estruturação, hierarquização, subordinação dos termos, representando a terminologia de poder e oportuniza perceber o olhar do indexador acerca do contexto informacional que ele está analisando.
Essas categorias de análise proporcionadas pelo MC permitem perceber como o indexador detalha e concebe a sua realidade em face do tempo e espaço em que vive e ocupa. Fato relevante, pois neste tipo de análise se considera a mutabilidade dos sujeitos e os processos de mudança inerentes em função dos novos grupos de convívio que passam a participar cotidianamente (Bastos, 2000). Ademais, acrescenta-se o "bombardeio" de informação que recebemos através dos meios de comunicação que, obviamente, influenciam as escolhas e percepções do indexador.
O MC, como instrumento metodológico para avaliação acerca das escolhas dos termos de indexação, permite as análises de ordem diacrô nica e sincrô nica, percebe as ideias de permanência e de imanência, de flexibilidade e de constância, que se revelam pela relação entre escolhas terminológicas a respeito da informação.
O MC configura-se na relação entre termos que variam e que permanecem por meio da repetição, "podendo representar possíveis padrões de relações entre conceitos" (Bastos, 2002, p. 67). Os MCs podem vir a expressar, por meio das escolhas dos termos, estruturas mentais que possibilitam visualizar os modelos mentais constitutivos no indexador, envolvendo ambientes e interações realizadas no seu dia a dia. Isso revela também um desafio, pois o nosso olhar de análise sobre o outro também é carregado de subjetividade e de cultura.
O uso do MC no contexto da CI, segundo Neves (2012):
(a) representa os processos mentais dos indivíduos em suas buscas e/ou em seu trabalho cotidiano em Unidades de Informação;
(b) permite conhecer a hierarquia do conceito e sua formação na mente;
(c) delineia modelos ou esquemas mentais considerando como os indivíduos constroem a representação do ambiente social a partir de suas interações e durante a aprendizagem.
Assim, os MCs foram usados como técnica metodológica na apreensão das formas de representar e dos termos escolhidos pelas indexadoras no tratamento realizado sobre os cordéis, objeto de nosso estudo. Essa análise permite perceber a relação entre os termos escolhidos no processo de indexação, o objeto de representação e o contexto no qual estão envoltas as indexadoras.
Segundo Hulf (1990, citado em Bastos, 2002) há três tipos clássicos de abordagem metodológica em relação aos MCs: de identidade, categorização e causais. Desses, utilizamos o primeiro, pois avaliamos, sobretudo, a associação e a escolha de conceitos a partir de "textos, narrativas e discursos". No nosso caso, os cordéis serviram de objeto de análise e as listas de termos inscritos pelas indexadoras, a partir da leitura e análise de seis folhetos previamente selecionados, configuraram-se como nosso instrumento de coleta de dados. Nosso estudo sobre os documentos repousa: (1) na identificação dos conceitos escolhidos; (2) no processo de escolha: evocação, lembrança e/ou associação; (3) na relação entre os conceitos; (4) na análise de representação por frequência e estruturação dos conceitos; (5) nas formas de apresentação da estrutura de relações; (6) nos possíveis produtos gerados como se apresentam a estrutura de texto, discurso ou narrativa, possibilitando reconhecer "os 'filtros' utilizados pelos sujeitos para perceber e dar sentido aos acontecimentos" (Bastos, 2002, p. 70).
Lima (2003) confirma o quão é relevante entender o sujeito num contexto, pois os processos de categorização, descrição, classificação, hierarquização e indexação são realizados por pessoas, com suas limitações e imersões sociais e culturais. Por isso, compreendemos a existência de limitações conceituais e terminológicas nessa relação de escolhas. A mente humana trabalha de forma a organizar estruturalmente o conhecimento que se apropria ao longo da vida. Por isso, o MC fornece pistas que nos fazem entender essas escolhas, isto é, as estratégias que levam os sujeitos a estruturar na mente os objetos, "coisas, fatos e fenô menos" (Lima, 2003, p. 83).
Assim, os estudos associados à cognição humana, discutidos por pesquisadores de distintas áreas do saber, enfatizam o quanto a "leitura e compreensão textual apontam para uma tendência de investigações sobre a importância do conhecimento prévio, as estratégias de transformação da informação em conhecimento e as variáveis textuais, entre outras" (Neves, 2006, p. 41).
4. Método de investigação: Calços E Percalços Nos Labirintos Da Literatura De Cordel
A Biblioteca de Obras Raras átila Almeida (BORAA) foi adquirida em 2004 pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) através de doação realizada pelo Governo do Estado que a adquiriu, por meio de parecer técnico realizado por um corpo de profissionais dos quais se incluía o profissional bibliotecário, que pautou seu parecer técnico na análise bibliológica e bibliográfica. Seu destaque, em meio a mais de 35.000 (trinta e cinco mil) livros, periódicos, jornais, documentos pessoais (cartas, fotografias, etc), almanaques, catálogos, dicionários, enciclopédias, etc, são os cordéis. Ao longo dos anos, a BORAA adquiriu novos títulos, seja por doação ou compra, saltando de 7.498 títulos de folhetos, exclusivos da coleção original de átila Almeida, para 9.850 títulos em 2010, com a compra da coleção do professor cearense Gilmar Carvalho. Somava em 2013, cerca de 12.000 títulos e 18.076 exemplares. Sem dúvida, uma das maiores do mundo, quiçá, o maior acervo de cordel brasileiro do planeta (Maia, 2013).
Visto todo o seu potencial para pesquisa, entre 2009 a 2013, desenvolvemos três projetos envolvendo os cordéis, aprovados via Iniciação Científica (PIBIC) e via Programa de Incentivo à Pós-graduação e Pesquisa (ProPesq). Tais estudos focalizavam a gestão dessa coleção nas práticas de descrição, de digitalização, de armazenamento e de disseminação, a saber: "Desenvolvimento de uma aplicação web para gerenciamento de cordéis na biblioteca átila Almeida" (2009-2010), "Otimização do processo de digitalização dos cordéis do Raro Acervo da Biblioteca átila Almeida: tratamento imagético dos documentos digitais disponibilizados via banco de dados na web" (2012-2013) e "Tratamento técnico aplicado ao raro acervo de cordel da Biblioteca átila Almeida da Universidade Estadual da Paraíba: otimização de sistema de banco de dados e disponibilização do acervo via web" (2011-2013) (Maia, Azevedo Netto y Oliveira, 2012).
Ao todo, orientamos vários discentes do curso de Arquivologia da UEPB e da UFPB durante esses 5 anos de projetos formais, que consistiram em:
[...] diagnosticar, higienizar, detalhar informações acerca da descrição física e temática em torno dos cordéis, conhecer os usuários e determinar suas necessidades de informação. Partindo disso, criamos um banco de dados específico para documento de cordel, envolvendo descrição física e temática e, agregado a isso, o documento digital na íntegra. De um lado, essas ações buscavam conservar o documento; por outro, disseminar e democratizar a informação. (Maia y Albuquerque, 2014, p. 15).
Como continuidade de nossas investigações científicas sobre o cordel, este artigo resulta de uma pesquisa em que adotamos o mapa conceitual como procedimento de coleta e de análise quanto às escolhas terminológicas, no tocante aos termos associados pelos indexadores aos documentos indexados. Para tal, solicitamos a duas discentes-indexadoras, que trabalharam nos projetos supramencionados, que realizassem a catalogação temática de seis cordéis. Ambas as escolhas das discentes quanto aos cordéis foram intencionais.
Os critérios de escolha das indexadoras para o desenvolvimento da pesquisa foram o empenho e uma larga experiência de ambas na indexação dos cordéis na base de dados durante o período de 2009 a 2013. Equivale a uma amostra de 25% dos pesquisadores que trabalharam nos projetos de um universo de oito discentes. Quanto à idade, uma das pesquisadas tem 35 anos; a outra, 25 anos. Ambas são do sexo feminino. Uma delas já concluiu o curso de Arquivologia há três anos e a outra está em fase de escrita do seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), ou seja, pesquisadas que estavam entre o início e o término dos projetos de iniciação científica financiados por meio do Programa de PIBIC e da ProPesq.
Quanto aos cordéis, escolhemos os seguintes títulos e autores: (a) Breve história do cordel (Medeiros Braga); (b) A briga de um gay com uma mulher macho (Manoel Monteiro); (c) O cordel da transposição (Medeiros Braga); (d) Eu gosto da Paraíba e adoro João Pessoa (José Costa Leite); (e) O mito da caverna (Medeiros Braga); (f) O silêncio de Antô nio Silvino (Leandro Gomes de Barros).
A lógica que perfez os critérios de seleção dos folhetos foi: (1) pelo menos um cordel cujo tempo demarque o início da sua produção no Brasil com uso de narrativa e termos, quiçá, desconhecidos das indexadoras em função do distanciamento temporal - cordel "f"; (2) que propicie determinação terminológica em função das sinonímias cordel "b"; (3) demarque questões políticas atuais -cordel "c"; (4) envolva reflexão aguçada exigindo do indexador a escolha de termos por atribuição (Araújo Júnior, 2007) - cordel "e"; (5) descreva pelo menos um local, com uso de demasiados adjetivos e metáforas - cordel "d"; (6) que trate do próprio documento de análise - cordel "a" (Gonçalvez, 1998; Smit; Kobashi, 2003).
Outras questões inerentes à terminologia e ao uso da linguagem extrapolam alguns dos elementos acima descritos. Contudo, foram esses os critérios, intencionais e plausíveis quanto à seleção desses folhetos, que justificaram e balizaram as escolhas em relação aos cordéis da pesquisa. é importante tal esclarecimento, pois percebemos uma pluralidade terminológica quando realizamos a avaliação dos mapas conceituais feitos pelas indexadoras analisadas.
Quanto à coleta de dados, entregamos os cordéis às pesquisadas em momentos distintos, entre outubro de 2014 e janeiro de 2015. Explicamos que deveriam ler os cordéis, identificar o título e listar os termos para indexação de cada documento analisado. Não havia limite de termos para serem descritos. Ambas enviaram as respostas dos mapas conceituais via email (Neves, 2012).
O mapa conceitual foi usado nesta pesquisa como metodologia para a coleta e análise dos dados obtidos, consistindo em identificar as escolhas das indexadoras quanto aos conceitos que imaginam representar o conteúdo dos cordéis. Para tal, entendemos que a comparação entre os dois mapas conceituais realizados pelas indexadoras produz pontos de convergência e de divergência que nos possibilitam entender suas escolhas considerando os aspectos cognitivos. Permitiu-nos verificar quais representações foram eleitas por meio do olhar técnico e que são externalizadas na atribuição terminológica.
Desse modo, o mapa cognitivo é um instrumento que expressa uma representação mental do discurso enunciado pelo sujeito, que elabora uma noção do que "a coisa é" ou "o que a ela está associado". Corroborando Bastos (2002), o uso do mapa cognitivo funciona como uma "estratégia metodológica voltada para explicitar os processos de construção de sentido e a estruturação de conhecimento, [aplicando] tanto entre indivíduos, como entre grupos e organizações" (p. 74). Também reconhecemos que a análise aplicada é processual, não representando concepções e relações estáticas quanto às escolhas terminológicas aplicadas ao cordel. O mapa cognitivo permite que percebamos estas escolhas e associações atribuídas pelos sujeitos da pesquisa a fim de compreender o seu ambiente e o sentido atribuído (Bastos, 2000; 2002).
5. Resultados. Tecendo Apreciação Entre Mapa Conceitual E Indexação: A Prática Com Cordéis
A indexação é um processo mental que tem o objetivo de associar informação contida num documento a um conjunto de termos que tenta representá-lo. é muito usada no tratamento da informação nas áreas da Biblioteconomia e da Arquivologia para auxiliar o indexador na análise, na organização e no controle dos documentos gerenciados e o usuário nos processos de busca. Para além da indexação, há outros elementos de descrição de um documento seguindo a tríade: organizar, tratar e recuperar (ARAúJO JúNIOR, 2007; GONçALVES, 1998), mas que não pertence a essa discussão.
Os anos 80 foram um marco para os problemas de recuperação da informação, significando uma ampliação de perspectiva ao incluir o usuário final no processo de análise documental, com os instrumentos necessários para que o mesmo realizasse suas próprias buscas. Lopes (2002) ainda diz que a base de relação no processo de busca pelo usuário é a Linguagem Natural (LN), associando-a aos termos usualmente aplicados a uma área do conhecimento. No caso do cordel, é totalmente descomprometido com o controle terminológico ou o academicismo textual (ALBUQUERQUE, 2011). Os folhetos tratam de assuntos diversos e possuem caráter informativo, por isso, sua associação ao jornal; em formato incomum, obedecem a uma lógica poética e usam, recorrentemente, termos sinô nimos, onomatopeicos e outros recursos linguísticos peculiares à liberdade poética, haja vista a sua necessária construção em versos e rimas que são associados a uma métrica matematicamente contínua, da primeira à última estrofe.
A LN é a ferramenta da construção da estrutura textual do cordel, e o desafio da indexação para esse documento está ancorado nesse elemento: qual melhor termo da linguagem natural é representativo para significar um conjunto de termos associados ou similares conceitualmente? São inerentes à indexação a seleção terminológica e a sua classificação na constituição de vocabulário, relacionando termos associados, equivalentes, hierárquicos e subordinados. O processo inicia pela análise terminológica e pela organização de listagem das variantes gramaticais (gênero, número, etc) dos termos selecionados e, em seguida, agrupando os seus equivalentes (FUJITA, 2009). No cordel, estabelecemos uma Linguagem Controlada (LC) de uma Linguagem puramente Natural. Eis a questão: quais termos escolher dentro de um universo polissemicamente diversificado? Nessa direção, compreender as escolhas por meio dos MCs é uma forma de perceber como cognitivamente o indexador se posiciona. A indexação precisa ser tão específica quanto revocatória; tão precisa quanto exaustiva, imprimindo êxito na recuperação de informação realizada por distintos perfis de usuários (MAIA, 2010). Assim, a indexação necessita garantir o atendimento aos inúmeros usuários e de suas distintas necessidades de informação no processo de recuperação.
O MC é ancorado em abordagem cognitiva e, inspirada nela, Fujita (2009) considera que tal abordagem precisa ser mais explorada na perspectiva da Ciência da Informação, reforçando o seu potencial, entre os quais os processos de representação do conhecimento a partir da lógica do indexador, suas interações e associações (LIMA, 2003). Nesse sentido, fizemos uso em particular do MC para compreender essa lógica.
Com base na análise de 6 (seis) cordéis por parte de 2 (duas) indexadoras, obtivemos os seguintes mapas conceituais, considerando as colunas "Indexadora AL" e "Indexadora AF":
Cordel: Título / Autor |
Indexadora AL |
Indexadora AF |
|
Termos |
|||
Breve história do cordel Medeiros Braga |
Cordel, xilogravura e literatura |
Arte, Artista popular, Brasil, Colonização, Cordelista, Cultura nordestina, Cultura popular, Estrutura do cordel, Fantasia, Feira, Folclore, Folheto de cordel, História do cordel, Imigrante, Literatura, Metrificação, Poesia, Região nordeste, Rima e Xilogravura |
|
A briga de um gay com uma mulher macho Manoel Monteiro |
Gay, sapatão e GLS |
Briga, Discriminação sexual, Discussão, Gay, Homossexualismo, Lésbica e Sapatão |
|
O cordel da transposição Medeiros Braga |
Transposição, Rio São Francisco, Cariri e Velho Chico |
Agreste, Desigualdade social, Impacto ambiental, Região nordeste, Rio São Francisco, Seca, Sertão, Sofrimento, Transposição e Velho Chico |
|
Eu gosto da Paraíba e adoro João Pessoa José Costa Leite |
Paraíba, João Pessoa e história da Paraíba |
Adoração, Beleza natural, Clima tropical, Hospitalidade, João Pessoa, Mulher bonita, Natureza, Paraíba, Personalidade paraibana, Ponto turístico, Praia, Região nordeste e Turismo |
|
O mito da caverna Medeiros Braga |
Platão, caverna, mito e filosofia |
Alienação, Caverna, Escravidão, Escravo, Esperança, Filosofia, Fogueira, Idealismo, Ignorância, Ilusão, Imaginação, Incompreensão, Liberdade, Meio de comunicação, Mito, Natureza, Ousadia, Prisão e Sombra |
|
O silêncio de Antônio Silvino Leandro Gomes de Barros |
- |
Arrependimento, Assalto, Bandido, Cangaceiro, Cangaço, Padre e Região nordeste |
Tabela 1 Mapa conceitual elaborado pelas indexadoras Fonte: Elaboraçao própria.
Numa primeira análise, percebemos que a Indexadora AL foi sucinta em relação à Indexadora AF. Também é perceptível o cuidado com a organização da listagem dos termos: AF os pôs em ordem alfabética e iniciou cada termo em caixa alta. Talvez o perfil das indexadoras sinalize acerca da diminuta listagem de termos realizada por uma delas. AF é discente do curso de Arquivologia da UEPB e trabalha meio expediente como estagiária em arquivo da capital. A Indexadora AL é arquivista formada pela UEPB há dois anos e trabalha dois expedientes. Ambas são paraibanas, importante informação, pois estão ambientadas com o contexto terminológico e de significados que envolve a literatura de cordel, bem como foram alunas bolsistas de projetos PIBIC e ProPesq que desenvolvemos entre 2009 e 2013; portanto, possuem prática na indexação desses documentos e conhecem os meandros de suas particularidades. Podemos explicar a diferença entre as listas em função da ocupação diária e de tempo disponível para leitura e elaboração da lista apontada na Tabela 1.
Destacando os três pontos de análise indicados por Bastos (2000; 2002), a saber, seleção, silenciamento e organização, fizemos as seguintes considerações, referenciando cordel a cordel seguindo ordem alfabética já sinalizada na Tabela 1:
a) Breve História do Cordel: enquanto AF usou 20 termos, AL indicou três. AL usou descritores pontuais e precisos e sem utilização de sinonímias; no máximo, podemos dizer que houve o uso de quase sinonímias entre os termos cordel e literatura. Ressalvamos que este termo é muito amplo, podendo especificar o gênero mais próximo ao cordel, qual seja, literatura popular, designação usual em diversas bibliotecas para designar esse tipo de literatura, o que não significa que concordemos. AF, por sua vez, imprime uma ordenação alfabética, o que significa o uso de um critério de organização, não deixando claro o sentido de hierarquia e de associação entre os termos apresentados. Dos vários descritores que AF utilizou, sem dúvida, há riqueza terminológica e possibilidades de atender a um maior número de usuários. Como se trata da sua própria história, houve o cuidado de deixar esse registro presente na escolha dos termos, a saber: cultura nordestina, cultura popular, estrutura do cordel, folheto de cordel e história do cordel. Quanto à relação do cordel enquanto poesia, AF elegeu os seguintes descritores: literatura, metrificação, poesia e rima. A ideia de selecionar artista popular, cordelista e folheto de cordel revela que há uma relação de imbricamento entre o produtor e a materialidade do objeto de criação. Ambos se fundem de tal modo que Aroni (2010) percebe a alma nos objetos a ponto de assumirem vida própria e sentido humano, ou seja, o folheto é cercado de subjetividade, atribuído pelos sujeitos que os inventam. Fruto da relação icô nico-textuais (Borges, 1998), a imagem, nominada por xilogravura, é outro elemento fundamental do cordel e não foi silenciado por ambas. Há termos que talvez não sejam utilizados no processo de busca dos usuários, contudo, são contextualizados no cordel e extraídos na indexação por AF: arte, artista popular, Brasil, colonização, fantasia, feira, folclore, imigrante e região nordeste. Podemos também estabelecer relações de quase sinonímias por AF, eis: artista popular e cordelista. é também interessante o uso da expressão cultura e sua tipificação em enquadrar o cordel como cultura popular, o que reflete uma visão que segrega essa literatura da ideia de erudição;
b) A briga de um gay com uma mulher macho: mais uma vez AL descreve o documento com três termos; AF, sete. Apenas um termo não é usado por ambas, GLS. Sem dúvida, um texto rico em sinonímias como: gay, sapatão, GLS, homossexualismo e lésbica. Interessante perceber que poderiam as pesquisadas usar outros termos, tanto por atribuição como por extração (Araújo Júnior, 2007). Esse silêncio chama-nos atenção, pois o tema utilizado pelo autor do cordel pode ser associado a um conjunto diversificado de termos evocados no cotidiano, incluindo os depreciativos, associado aos gays, como: bissexual, baitolo, LGBTTT, travestis e veado. Talvez, por se tratar de alguns termos vulgares, as indexadoras tenham os evitados. Novamente, AF faz uso de mais termos associados ao documento em tela, particularizando, ou melhor, podendo especificar a sua recuperação para o usuário (Fujita, 2009), embora, exceto pelo descritor discriminação sexual, os demais são evasivos e sem sentido terminológico (briga e discussão). Para além da escolha de "palavras", na indexação, cada termo é eleito se estiver agregado a um conceito, melhor explicando, precisa ser reconhecido e ter sentido significativo para o sujeito. Acrescentamos que esse cordel, sem dúvida, trata de um texto cuja temática é atual em nossa sociedade, apresentando traços culturais fortes acerca do preconceito e do posicionamento machista pertencentes ao universo nordestino;
c) O cordel da transposição: seguindo a mesma lógica, AL indicou quatro descritores e AF, 10 (dez). A exceção de um único termo, as indexadoras usaram itens descritivos idênticos: transposição, rio São Francisco e Velho Chico. Os dois últimos designam um mesmo conceito, ou seja, são sinô nimos e, no contexto da classificação, são considerados termos equivalentes. Quiçá, para os brasileiros de outras regiões, a associação entre rio São Francisco e Velho Chico não faça sentido, mas, para nós, nordestinos, o uso deste termo é de reconhecimento imediato. Por isso, o seu uso é inserido na poesia, refletindo a relação de cordialidade entre o sujeito e objeto de descrição, o Velho Chico. Isso demarca a dinâmica cultural por meio da atribuição de sentido ancorado na linguagem. Já o viés político associado ao texto do cordel é percebido pelos termos pontualmente eleitos por AF, a saber, desigualdade social, impacto ambiental, seca e sofrimento. Além disso, há o uso de descritores que demarcam elementos espaciais significativos para compreender o embate político inerente à transposição do rio São Francisco, expressos pelos termos micro e macrorregionais: região nordeste, agreste, cariri e sertão. A transposição, debate central da poesia, marca uma ação impositiva do homem sobre um ente da natureza, o rio. Se por um lado, a transposição pode minimizar a desigualdade social, causada pelo sofrimento imposto pela seca, por outro, essa ação traz consequências negativas como o impacto ambiental. Assim, percebemos que a seleção de termos escolhidos por AF revela, para além de uma leitura romântica do cordel sobre o fenô meno da transposição, o seu revés, que está imbuído nessa intervenção humana;
d) Eu gosto da Paraíba e adoro João Pessoa: a escolha de AL pautou-se em três termos, sendo um por atribuição - história da Paraíba. Ambas, AF e AL, indicam os termos Paraíba e João Pessoa; sem dúvida, temas centrais do folheto, sinalizados no título da poesia. Tratando-se da descrição de dois locais, são escritos no texto vários atributos qualitativos, apenas informados por AF, a saber: adoração, beleza natural, hospitalidade e mulher bonita. Embora, enquanto descrição representativa ou mesmo significativa, não percebamos relevância como termos de indexação (Araújo Júnior, 2007). Referindo-se aos aspectos físicos dos dois locais, são usados os seguintes termos por AF: clima tropical, natureza, ponto turístico, praia e região nordeste. AF indicou um total de 13 descritores associados ao cordel, sendo os dois restantes: personalidade paraibana, e turismo. Chamamos atenção para a estreita relação entre ponto turístico e turismo, demonstrando pela pesquisada a percepção de conceder ao usuário duas possibilidades linguísticas de busca. A região nordeste é um termo que produz relação hierárquica ou verticalmente classificatória, pois a citada região abarca o estado e a cidade em tela. Outro ponto de destaque é a atribuição sinalizada por AF quando faz uso do termo personalidade paraibana, que aglutina uma série de outras palavras citadas do folheto: Augusto dos Anjos, João Pessoa, José Lins do Rêgo e Martim Leitão. Ao citar o termo turismo, a vinculação terminológica com os descritores clima tropical, natureza, ponto turístico e praia é direta, pois estes remetem ao universo turístico nordestino brasileiro;
e) O mito da caverna: AF escolheu 19 termos que retratam o cordel, enquanto AL indicou quatro. AL mais uma vez foi precisa e apenas um termo foi distinto dos eleitos por AF. Alguns dos termos apresentados por AF são evasivos: alienação, escravo, esperança, fogueira, idealismo, ignorância, ilusão, imaginação, incompreensão, liberdade, meio de comunicação, natureza, ousadia, prisão e sombra, contudo, alguns desses descritores revelam relações cognitivas interessantes; outros produzem confusão conceitual. O termo escravidão é uma variante de escravo, permitindo ao usuário mais flexibilidade quanto às opções de busca. Por outro lado, também revela redundância terminológica, algo a ser evitado num contexto de controle de vocabulário (Gonçalvez, 1998). "O controle de vocabulário é um recurso para organizar e recuperar documentos -e informações - com consistência, gerando, consequentemente, confiança no sistema" (Smit y Kobashi, 2003, p. 14). Outro conjunto de termos apontados por AF está relacionado às faculdades mentais, a saber, ignorância, ilusão, imaginação e incompreensão, característicos de estudos filosóficos e, por isso, esses possuem um elo condutor entre eles. Um termo em especial, idealismo, subordina-se numa concepção classificatória a outro: filosofia. Dos termos eleitos por AL: caverna, filosofia, mito e Platão, o último foi o único termo em comum entre as duas indexadoras. Conforme supúnhamos, ambas usaram o descritor filosofia, indexado por atribuição (Araújo Júnior, 2007). Notamos que até o presente, as indexadoras não utilizaram termos compostos e poderiam fazê-los como o descritor "Mito da caverna" por ser uma obra bastante conhecida de Platão e ganha sentido para o usuário se expressar de forma completa. Por termo composto, entendemos que uma "expressão deve ser considerada indivisível" (Smit y Kobashi, 2003, p. 28), exemplificado pelo exemplo "Mito da caverna";
e) O silêncio de Antô nio Silvino: escrito pelo pai do cordel brasileiro, Leandro Gomes de Barros. O documento possui termos do início do século XX, o que pode representar uma barreira à compreensão da informação. Talvez tenha sido esse o problema para AL, pois não preencheu a ficha relativa ao mapa conceitual. AF indicou sete termos, entre os quais: arrependimento, assalto, bandido, cangaceiro, cangaço, padre e região nordeste. Os descritores arrependimento e padre nos parecem evasivos e não nos permitem perceber se seriam utilizados pelos usuários que necessitassem de cordéis sobre o cangaço. Os termos cangaceiro e cangaço possuem uma relação de equivalência e são os pontos centrais da discussão que envolve o folheto. Contudo, se resguardados os parâmetros da indexação, apenas um desses termos é que deve ser escolhido enquanto descritor. O uso no MC do termo região nordeste foi muito interessante, pois circunscreve no espaço onde esse fenô meno ocorreu. Os outros 2 (dois) itens, assalto e bandido, enfatizam as práticas associadas desse movimento acontecido no início do século XX e por ser tipicamente nordestino, a saber, o cangaço. Sua figura ilustre foi o "Lampião" e, por esse motivo, acreditamos que foi silenciado o nome de "Antô nio Silvino", intitulado no cordel. O cangaço eclodiu no nordeste e houve vários líderes para cada bando; contudo, a ressonância do nome de "Lampião" é tão forte para nós, nordestinos, que entendemos o motivo pelo qual, mesmo tratando da história de "Antô nio Silvino", não fora citado como descritor.
Seja por extração e/ou atribuição, a indexação é um processo mental que envolve várias relações entre os termos, entre o indexador e o texto e entre o contexto tanto do autor quanto de quem o analisa. Com o uso do MC, foi possível estabelecer e entender parte dessas conexões na perspectiva da representação da informação em cordéis.
6. Discussões: Indexando E Mapeando Cordel
O universo do cordel é tão fascinante quanto desafiador. Estabelecer a conexão entre o MC e a indexação foi surpreendentemente instigante. Entender as escolhas terminológicas a partir da perspectiva de análise da MC é um processo estimulante, pois visa delinear e compreender o que pode estar desenhado nas entrelinhas da representação. Indexar não é tarefa fácil e, em especial, no caso dos textos de cordel, envolve complexidade pelos seguintes motivos: (a) a liberdade poética que permite pluralidade semântica; (b) a diferente estrutura textual, composta de versos e estrofes, que destoa dos textos que estamos acostumados a ler, a prosa; (c) a polissemia, uso variado de termos demarcados por um conceito único, que revela traços característicos de uma linguagem específica; (d) sua profunda imersão sobre uma perspectiva cultural notadamente nordestina.
A análise sob o olhar do MC permite estabelecer possíveis conexões mentais e supor o que podem significar determinadas escolhas conceituais e suas relações, considerando a perspectiva das indexadoras em função de sua percepção cultural e, portanto, o sentido contextual no qual estão inseridas (Bastos, 2002). Essas conexões podem indicar representações latentes, que são evocadas na leitura dos cordéis por corresponder a histórias vividas ou conhecidas das indexadoras, o que Halbwachs (2006) nomina por realidade coletiva. Ao eleger os termos que identificam os cordéis, e percebendo a imersão cultural das indexadoras nesse ambiente, podemos asseverar que os termos representativos refletem esse universo de modo bastante coerente. Para os sujeitos que não vivenciaram (no sentido de cantar, ler, ouvir) as histórias narradas nos folhetos e desconhecem o significado do nosso "Lampião", "cangaço", "Padim Cícero", o sentido dos textos pode ser obscuro e confuso. Isso foi constatado em 2012, quando recebêramos uma ligação de uma bibliotecária do Rio de Janeiro, que catalogava e indexava acervo de cordel e conhecia o nosso trabalho, questionando-nos o motivo de tamanha produção acerca de "Lampião" e a idolatria acerca desse personagem. Respondemos às indagações, contudo, percebêramos as lacunas inquestionáveis entre texto e contexto.
Por meio de suas escolhas, as indexadoras elegem termos que nos permitem traçar os motivos e as relações terminológicas, e o uso do MC nos auxilia na análise subjetiva e cultural em que os sujeitos estão imersos. Considerando os três tipos clássicos de MC, sinalizados por Hulf (1990), citados por Bastos (2002), foi utilizada a abordagem de identidade, sendo satisfatória para o nosso estudo, considerando a identificação e critérios de escolhas dos conceitos e termos indicados para cada cordel avaliado. Essas escolhas representam uma narrativa discursiva, seu sentido e reconhecimento cultural as quais sob as perspectivas da seleção, silenciamento e organização/estruturação pautaram as nossas análises.
Assim, utilizar o MC na perspectiva da indexação de cordéis conduziu-nos a uma percepção analítica destoante, tão inovadora quanto perspicaz, fazendo-nos perceber elos e relações ainda não problematizados e estudados (Lima, 2003). Sem dúvida, é preciso que a Ciência da Informação alce novos voos, estabelecendo enlaces e diálogos com metodologias diferenciadas e incluindo objetos documentais adormecidos ou silenciados. é sobre o olhar da diferença que a ciência avança, produzindo novos saberes e fazeres, pois uma "ciência nunca é completa ou fechada, oferece continuamente novos problemas" (Brookes, 1980, p. 125).
Referências Bibliográficas
Albuquerque, M. (2011). Literatura popular de cordel: dos ciclos temáticos à classificação bibliográfica. Tese (Doutorado em Letras)- Programa de Pós-Graduação em Letras. Universidade Federal da Paraíba: João Pessoa.
Almeida, A. y Alves, J. (1978) Dicionário bio-bibliográfico de repentistas e poetas de bancada. João Pessoa: Universitária da UFPB.
Araújo Júnior, R. (2007). Precisão no processo de busca e recuperação da informação. Brasília, D. F.: Thesaurus.
Aroni, B. (2010). Por uma etnologia dos artefatos: arte cosmológica, conceitos mitológicos. Revista Proa, 1 (2), 1-27.
Azevedo, C. (2007). Informação e memória: as relações na pesquisa. Revista História em Reflexão, 1(2), 1-19.
Bastos, A. (2000)ÊOrganização e cognição: o que emerge desta
interface?. In: S. Rodrigues, M. Cunha. (Eds.). Estudos organizacionais: novas perspectivas na administração de empresas. São Paulo: Iglu.
_______ (2002). Mapas cognitivos e a pesquisa organizacional: explorando aspectos metodológicos.ÊEstudos de Psicologia, 7 , 65-77.
Borges, F. (1998). Poesia de cordel: relações icô nico-textuais. In: Congreso Latinoamericano De Ciencias De La Comunicación, 4, Recife: UFPE. Disponível em: <www.eca.usp.br/associa/alaic/congreso1999/8gt/francisca%20neuma.rtf>. Acesso em: 05 maio 2015.
Brookes, B. C. (1980) The foundations of information science: Part I: Philosophical Aspects. Journal of Information Science, (2), 125-133. Disponível em: <http://comminfo.rutgers.edu/~kantor/601/Readings2004/Week3/r4.PDF>. Acesso em: 05 maio 2015.
Buendia, M. yÊSilveira, L. (2011) . Da invenção da tradição (ou de como os patrimô nios nos inventam). Notas sobre a patrimonialização do pastoreio na Espanha. Horizontes Antropológicos, 17(36), 145-169
Castells, M. (1999). A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra.
Curran, M. (2009) História do Brasil em cordel. São Paulo: Universidade de São Paulo.
Fujita, M. (2009). A indexação de livros: a percepção de catalogadores e usuários de bibliotecas universitárias. São Paulo: Cultura Acadêmica.
Gonçalves, J. (1998). Como classificar e ordenar documentos de arquivo. São Paulo: Arquivo do Estado.
Halbwachs, M. (2006) A memória coletiva. São Paulo: Centauro.
Haurélio, M. (2010). Breve história da literatura de cordel. São Paulo: Claridade.
Heuvel, C. y Rayward, W. (2011). Facing interfaces: Paul Otlet's visualizations of data integration. Journal of the American Society for Information Science and Technology, 62, (12), 2313-2326.
Le Coadic, Y. (1996) A ciência da informação. Brasília, D. F.: Briquet de Lemos.
Lima, G. (2003). Interface entre a ciência da informação e a ciência cognitiva. Ciência da Informação, 32, (1), 77-87.
Linares Columbié, R. (2010) Epistemología y ciência de la información: repensando um diálogo incluso. Acimed, 21, (2). Disponível em:
<http://www.acimed.sld.cu/index.php/acimed/article/viewArticle/52/18>. Acesso em: 14 jul. 2014.
Lopes, I. (2002) . Uso das linguagens controlada e natural em bases de dados: revisão da literatura Ciência da Informação, 31,(1), 41-52.
Maia, M. y Oliveira, B. (2008). Tratamento documental para cordéis: o raro acervo átila Almeida. In: Fórum Internacional De Arquivologia, 1, João Pessoa. Anais eletrô nicos... João Pessoa: UEPB.
_______ et al. (2010) Relatório PIBIC: Desenvolvimento de uma aplicação web para gerenciamento de cordéis na biblioteca átila Almeida/UEPB. João Pessoa: UEPB.
_______. (2013) Relatório sobre o Sistema Integrado de Bibliotecas da UEPB: gestão setembro de 2006 a julho de 2013. Campina Grande: UEPB.
_______; Maia, M; Azevedo Netto, C. y Oliveira, B. (2012). A experiência nos processos de digitalização do acervo de cordel da Biblioteca átila Almeida da Universidade Estadual da Paraíba. Em Questão, Porto Alegre, 18, (2), 85-104. Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/index.php/EmQuestao/article/view/30304>. Acesso em: 20 dez. 2014.
Maia, M. y Albuquerque, M. (2014). O uso da análise da informação nos processos de indexação para o contexto do cordel. Revista DataGramaZero: Revista de Ciência da Informação, 15, (5). Disponível em: <http://www.dgz.org.br/out14/Art_03.htm>. Acesso em: 20 dez. 2014.
Merencio, F. (2013) . A imaterialidade do material, a agência dos objetos ou as coisas vivas: a inserção de elementos inanimados na teoria social. Cadernos do LEPAARQ - Textos de Antropologia, Arqueologia e Patrimô nio da UFPEL, 10, (20).
Neves, D. (2006). Ciência da informação e cognição humana: uma abordagem do processamento da informação. Ciência da Informação, 35, (1), 39-44.
_______. (2012) Representação temática da informação e mapas cognitivos: interações possíveis. Informação & Sociedade: estudos, 22, 39-47.
Salaini, C. y Graeff, L. (2011). A respeito da materialidade do patrimô nio imaterial: o caso do INRC Porongos. Horizontes Antropológicos, 17, (36), 171-195.
Saraiva, A. (2011) Re: dúvida! [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <asaraiva@netcabo.pt> em 12 ago. 2011.
Smit, J. y Barreto, A. (2002) . Ciência da Informação: base conceitual para a formação do profissional. In: M. L. Valentin, (Comp.) Formação do profissional da informação. São Paulo: Polis.
Smit, J. y Kobashi, N. (2003) . Como elaborar vocabulário controlado para aplicação em arquivos. São Paulo: Arquivo do Estado.
Notas
[1] Professora Adjunta do Departamento de graduação e do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Brasil
[2] Professora Associada do Departamento de graduação e do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Doutora em Ciência da Informação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Brasil
[3] São monumentos/documentos materializados em instrumentos de representação de identidades culturais, viabilizando os processos sociais de transferência da informação. São produtos confeccionados por humanos, sem existência própria na natureza, já que ela é uma ferramenta, produzida e/ou percebida pelo homem, como um dos elementos necessários para a construção do conhecimento. São resultados da ação intencional de uma forma de registro, carregados por diversos níveis de interpretação e contextualização (Azevedo Netto, 2007).